quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Terror Contra o Demiurgo

por Aleksandr Dugin



(Resumo sobre a relevância do anarquismo hoje)

Anarquismo: Um olhar desde a direita

O anarquismo é considerado como o produto mais à esquerda do pensamento esquerdista. Essa crítica total da esquerda de todas as outras formas de ideologias revolucionárias: dos marxistas aos social-democratas. Os anarquistas fustigavam nos outros esquerdistas a presença de todos os velhos elementos reacionários. Para a anarquia, todas as outras formas não são mais do que referências sutilmente veladas ao antigo e único inimigo - o poder.

O anarquismo busca justificar um sistema de antítese radical de uma sociedade baseada no princípio do poder. Daí vem o nome "an-arquia", literalmente - "a ausência de poder". A anarquia aspira ser uma esquerda sem qualquer mistura de "direita", mas infelizmente não é assim. E aqui no anarquismo nós comumente encontramos os elementos que tradicionalmente pertencem à "direita". Exemplos notáveis são o "anarquismo de direita" do Evola e o conceito de "anarca" do Jünger.

Exemplos de componentes "direitistas" do anarquismo são numerosos. O mais notável é o misticismo. Bakunin - maçom, místico - era interessado no movimento dos "beguni". O mesmo se passa com Kelsiev. A grande figura do anarquismo Theodor Reuss - maçom, místico, fundador da "Ordem do Templo do Oriente" (junto com Karl Kellner). Posteriormente Aleister Crowley. Na Rússia - Karelin Solonovich, cujo círculo se reunia ao redor do museu de Kropotkin. A seita anarquista de Alexei Dobrolyubov. Muitos exemplos são dados no livro de Alexander Etkind "Chicote. Seitas, Literatura, Revolução".

O misticismo dificilmente poderia ser classificado como de "esquerda", como uma tendência "progressista". Ele pressupõe a crença em algo além, um certo arcaísmo.

Outra coisa: o que é esse arcaísmo? Qual é a estrutura da atitude anárquica em relação ao misticismo?

"Contra os governantes, contra os poderes..."

O misticismo dos anarquistas se apóia em uma fórmula gnóstica especial. A essência dela vem a isso: não há uma única realidade, hierarquicamente organizada, harmônica, virtuosa em si mesma, mas duas (ou mais). A realidade imanente se sustenta na usurpação, na tentativa de expressar o melhor a partir do pior, como único e inconteste.

E assim o poder imanente é o poder que é ontologicamente e inerentemente errado, injusto, maligno. Os primeiros gnósticos se fiavam no dito pelo Apóstolo Paulo - "Pois nós lutamos não contra carne e sangue, mas contra principados, contra potestades, contra os príncipes das trevas desse mundo, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". A versão cristã do anarquismo gnóstico se apóia nessa fundação.

Ademais, porém, o mesmo Apóstolo Paulo diz, "Escravos, obedecei a vossos mestres terrenos com respeito e temor, e com sinceridade de coração, assim como obedeceríeis a Cristo." A ortodoxia combina os chamados à conformidade social e à inconformidade espiritual. Os círculos gnósticos radicais estendem o clamor por inconformismo ao nível social.

Mas essa revolução contra "esse mundo" em um padrão anarco-gnóstico pleno pressupõe também uma segunda parte afirmativa. Contra esse mundo pelo outro mundo, por um mundo melhor, pelo "nosso" mundo, um novo mundo. E esse mundo alternativo possuía características positivas, construtivas. Esse - um universo de Luz, o mundo do bem e da divindade justa, o mundo do verdadeiro Bem, que foi usurpado por Satã, "o maligno Demiurgo".

Portanto, estruturalmente e tipologicamente a maior parte do anarquismo revolucionário oculta em si mesmo um grau extremo de conservadorismo, afirmatividade, criatividade, uma ordem transcendental radical. Ele não é niilismo irresponsável. Essa negação daquilo que, segundo o próprio anarquismo gnóstico, é a negação total do Bem.

Império: O Sagrado e o Profano

Traçar as raízes místicas do anarquismo ocidental não representa qualquer dificuldade. Mas como são os "beguni", os velhos crentes, a serem chamados os anarquistas russos mais consistentes? A quem os pesquisadores erguem a cosmovisão de Bakunin? Àqueles que Kelsiev tentou encorajar para a prática de terror antigovernamental em larga escala?

Os  gnósticos formularam suas doutrinas radicais no ambiente pré-imperial onde o Cristianismo ainda não havia se tornado a religião dominante. Sua rejeição desse mundo era apoiada por observações do ambiente pagão da Roma tardia, confirmando sua rejeição radical de tudo "externo". Isso quer dizer, os gnósticos eram "contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas desse mundo..." também porque eles eram não-cristãos - judeus ou helenos.

Quando o Império se tornou cristão o anarquismo gnóstico se dissipou. O reinício dessa linha se dá no período da Cristandade, quando a sociedade nominalmente cristão começa a ser alienada de sua natureza. E nesse ponto se torna relevante novamente a mesma abordagem dualista em uma contraposição radical e intransigente entre esse mundo e o outro mundo, "as autoridades desse mundo" às autoridades do outro mundo.

Diagnóstico dos Mentores "Beguni"

É durante o período da dessacralização total do catolicismo que surgem as lojas maçônicas. Enquanto a dessacralização da Russia nikoniata, romanovita, pró-ocidental, "administrativa" é tragicamente percebida pelos mais extremos entre os patriotas místicos ortodoxos russos - os velhos crentes.

Os "beguni" seguiram na negação dos "principados e potestades do governo desse mundo" mais do que os outros, assumindo que o Anticristo já havia coroado a si mesmo em face de Pedro I (Pedro o Grande). Foi assim que aconteceu a convergência tipológica dos extremistas sem sacerdotes com a fórmula gnóstica, cujos elementos já são visíveis naqueles ascetas russos que percebiam a queda do Império Bizantino como uma catástrofe apocalíptica absoluta - especialmente com a linha dos "não-possuidores", e seguidores tardios do ancião radical Kapiton.

Anarquia - Mãe do Bem

O niilismo extremo do impulso anarquista acaba não sendo de forma alguma a última palavra na profanação e negação da Tradição. Ao contrário, ele está baseado em uma discordância total em relação a essa dessacralização, em uma rejeição absoluta dela, do "mundo", dessa "era", que é governada por um Demiurgo maligno e seus acólitos, "avliyi El Shaitan", os "Santos de Satã".

A própria fórmula famosa da "anarquia mãe da ordem" é uma transferência para a dimensão social da tese da necessidade de uma abolição radical desse mundo do mal para que um mundo do bem possa ser fundado. Já que o mundo do mal é uma "barreira" para sua fundação ("Satã" em hebraico antigo significa "barreira"), então ele deve ser completamente destruído. É importante que os anarquistas compreendam o "novo mundo" não como uma criação, mas como uma descoberta. Eles não querem reformar, reconstruir, renovar a realidade, eles queriam transformar radicalmente a qualidade da realidade. Eles eram nisso conservadores muito bem sucedidos, sendo os destruidores mais consistentes. Mas eles destroem o próprio espírito de destruição, o ídolo da "velha ordem", a fortaleza do Demiurgo.

Estranha ação de "busca pela alma"

Os anarquistas são considerados sinônimos de terror radical. Mas por trás disso não há tantos significados sociais quanto ontológicos e cosmológicos. O terror não é um meio para os anarquistas de conseguirem reconhecimento político. Ele leva consigo um peso não tanto sócio-político quanto antropológico. Terroristas anarquistas não lançam bombas contra pessoas, não contra membros da classe, não contra figuras socialmente significativas. Eles lançam bombas contra o Anticristo e seus servos, e o ato em si leva consigo sua própria desculpa e justificativa.

O anarco-terrorismo é, eventualmente, uma "ação de salvação da alma". Ele é dirigido a salvar a "alma do mundo" do abraço tóxico do Usurpador.

Anarquismo de Direita e Rússia

É agora fácil compreender de onde são os "elementos direitistas" dos clássicos do anarquismo, Stirner e Proudhon. Os dois pólos dentro do anarquismo: um - personalista; o outro - coletivista.

Stirner ensina sobre a singularidade e sobre o verdadeiro ego disposto para sair do poder hipnótico desse mundo, incorporado no sistema social, seus símbolos, e da hierarquia de suas dependências. E aqui ele se aproxima ao conceito gnóstico de "atman", o mais elevado "Eu" espiritual, desenvolvido no hinduísmo e no esoterismo de outras tradições. Daí o interesse de Evola em Stirner, incluindo ele em seu panteão filosófico pessoal. Proudhon é o pólo oposto. Sua "veracidade" não está na "ciência do Eu" (o conceito do "Uno"), mas na idealização de comunidades rurais, a autonomia de grupos orgânicos naturais os quais ao sair do poder alienante do controle estatal (o Demiurgo) estão retornando às raízes da existência comunal, associada com ética tradicional e com a terra.

Esse ideal está próximo ao ideal da igreja cristã primitiva, representando ainda outro fenômeno profundamente arcaico e essencialmente "direitista".

Bakunin e Kropotkin estão no mesmo nível que Stirner e Proudhon. A Russia tradicionalmente tem assumido pelo menos metade das cadeiras da esquerda, enquanto o resto é composto por todos os outros povos europeus e não-europeus. Há um desequilíbrio claro. E a vitória da extrema-esquerda em outubro aconteceu conosco. É notável que somente em nosso profundamente "reacionário", "arcaico", "telúrico", "conservador" país, com o mesmo tipo de povo. Isso não é acidente. Para nós esse espírito paradoxal, o pulso gnóstico está muito próximo, esse incrível complexo espiritual, religioso e social que está por trás do fenômeno do anarquismo radical místico, essa forma extrema da Revolução Conservadora.

Fonte: Legio Victrix

sábado, 25 de outubro de 2014

Kerry Bolton - Marx Contra Marx: Uma Crítica Tradicionalista Conservadora do Manifesto Comunista

por Kerry Bolton




Há muita coisa no Manifesto Comunista que é válida desde uma perspectiva tradicionalista/conservadora. Marx foi um produto do "espírito" de sua Era, ou zeitgeist. Esse zeitgeist oitocentista permanece o mesmo hoje. Assim, Marx fornece um insight no materialismo, ou o que poderia também ser chamado determinismo econômico, que continuou a ser o ethos dominante do século XX e do atual. Como Oswald Spengler apontou, o marxismo não busca transcender o espírito do Capital, mas expropriá-lo. A perspectiva fundamental de um marxista ou de um CEO corporativo globalista é a mesma. Este artigo examina a análise marxista do que hoje é chamado "globalização", mas o faz sob uma perspectiva conservadora.

O método de análise histórica de Marx era o da dialética: tese, antítese e síntese. Sua atitude frente ao capitalismo como parte necessária da dialética histórica precisa ser compreendida sobre essa base. Não é necessário ser um marxista para apreciar a dialética como método válido de interpretação histórica, e Marx de fato repudiou Hegel, o mais conhecido dos teóricos dialéticos, por causa da abordagem metafísica de Hegel. Em contradistinção, o método de Marx é chamado "materialismo dialético".

Dialeticamente, a antítese, ou "negação" como Hegel a teria chamado, do marxismo é o "reacionismo", para usar o próprio termo de Marx, e se for aplicada uma análise dialética aos argumentos fundamentais do Manifesto Comunista uma metodologia prática para a sociologia da história de uma perspectiva "reacionista" emerge.

Conservadorismo e Socialismo

Pelo menos nos países anglófonos há uma dicotomia nebulosa em relação a Esquerda e Direita, particularmente entre especialistas da mídia e acadêmicos. O que é normalmente chamado "Nova Direita" ou "Direita" no mundo anglófono é mais precisamente identificável com o Liberalismo Whig. O filósofo conservador inglês Anthony Ludovici sucintamente definiu a dicotomia histórica, ao invés de comunalidade, entre Toryismo e Liberalismo Whig, quando discutindo a saúde e vigor da população rural em contraste à urbana:

"...E não é assombroso portanto que quando o tempo da Grande Rebelião, a primeira grande divisão nacional, ocorreu por uma grande questão política, o Partido Tory-Rural-Agrícola deveria ter se mobilizado em proteção e defesa da Coroa, cotra o Partido Whig-Urbano-Comercial. Verdade, Tory e Whig, como a designação dos dois principais partidos no Estado, ainda não eram conhecidas; mas nos dois lados que se digladiavam sobre a pessoa do Rei, o temperamento e objetivos desses partidos já eram discerníveis com clareza.

Carlos I, como eu apontei, foi provavelmente o primeiro Tory, e o maior conservador. Ele acreditava em garantir a liberdade pessoal e a felicidade do povo. Ele protegeu o povo não só contra a rapacidade dos empregadores no comércio e na manufatura, mas também contra a opressão dos poderosos e grandes".

Foi a ordem tradicional, com a Coroa no ápice da hierarquia, que resistiu aos valores monetários da revolução burguesa, manifesta pela primeira vez na Inglaterra, e então na França e por muito do resto da Europa do século XIX. O mundo permanece sob a influência dessas revoluções, como o faz ainda sub a Reforma que forneceu à burguesia uma sanção religiosa. Essas Revoluções foram parte da dialética histórica que Marx via como necessária na marcha rumo ao comunismo.

Como Ludovici apontou, pelo menos na Inglaterra, e portanto como uma herança mais ampla das nações anglófonas, a Direita e os Liberais "Livre-Mercadistas" emergiram não só como adversários ideológicos, mas como soldados em um conflito sangrento durante o século XVII. O mesmo conflito sangrento se manifestou nos EUA na guerra entre o Norte e o Sul, a União representando no sentido político inglês o puritanismo e os interesses plutocráticos concomitantes; o Sul, um renascimento da Tradição da Cavalaria, o ruralismo e o ethos aristocrático. Era assim, pelo menos, que o Sul percebia o seu conflito e estava agudamente consciente dessa tradição. Daí, quando em 1863 o Secretário Confederado de Estado Judah P. Benjamin foi questionado por idéias para um Selo nacional dos Estados Confederados da América, ele sugeriu "um cavaleiro" baseado na estátua equestre de Washington na Praça do Capitólio em Richmond e afirmou:

"Faria honra justa ao nosso povo. A figura do cavaleiro é típica do cavalheirismo, da bravura, da generosidade, da humanidade, e de outras virtudes da cavalaria. Cavalier é sinônimo de 'gentil-homem' em quase todas as línguas modernas... a palavra é eminentemente sugestiva da origem da sociedade sulista como usada em distinção à puritana. Os sulistas permanecem o que seus ancestrais foram, cavalheiros".

Esse é o fundamento histórico pelo qual, para a indignação de Marx, os resquícios das classes governantes tradicionais buscavam uma solidariedade anticapitalista com os camponeses e artesões crescentemente proletarizados e urbanizados. Para Marx, tal "reacionismo" era uma interferência no processo dialético ou na "roda da história".

O filósofo-historiador conservador Oswald Spengler era intrinsecamente anticapitalista. Ele e outros conservadores viam no capitalismo e na ascensão da burguesia o agente da destruição das bases da ordem tradicional, assim como Marx. Quase nada disso é compreendido pelos conservadores hoje, especialmente no mundo anglófono, onde o conservadorismo é geralmente considerado como uma defesa do capitalismo, que é também equiparado com "propriedade privada", apesar das tendências centralizantes que Marx previu - com razão.

O marxismo, crescendo a partir do mesmo zeitgeist que o capitalismo inglês em meio a revolução industrial, procede do mesmo ethos. Marx escolheu a escola inglesa de economia, e desprezou a escola alemã, de orientação conservadoria-protecionista. Spengler notou que:

"Marx era assim um pensador exclusivamente inglês. Seu sistema biclasse deriva da situação de um povo mercantil que sacrificou sua agricultura ao grande capital, e que nunca havia possuído um corpo de servidores civis com uma consciência estatal pronunciada, prussiana. Na Inglaterra havia apenas 'burguesia e proletariado', agentes ativos e passivos nas questões empresariais, ladrões e roubados - todo o sistema era bastante viking. Transferidos para o âmbito dos ideais políticos prussianos, esses conceitos não fazem sentido".

Spengler em Declínio do Ocidente afirma que no ciclo tardio de uma Civilização há uma reação contra o domínio do dinheiro, que derruba a plutocracia e restaura a tradição. É um conflito final na Civilização Tardia do que ele chama "sangue contra dinheiro":

"...Se chamamos a esses poderes financeiros de 'Capitalismo', então nós podemos designar como socialismo a vontade de chamar à vida uma poderosa ordem político-econômica que transcende todos os interesses de classe, um sistema de consciência elevada e senso de dever que mantém a totalidade em boas condições para a batalha decisiva de sua história, e essa batalha é também a batalha do dinheiro e da lei. Os poderes privados da economia querem caminhos livros para sua aquisição de grandes recursos..."

Em uma nota de rodapé ao trecho acima Spengler lembra os leitores em relação ao "capitalismo" que, "nesse sentido a política de interesses dos movimentos de trabalhadores também pertencem a ele, na medida em que seu objetivo não é a superação dos valores monetários, mas a sua posse".

O conceito "prussiano" de "socialismo" pode ser resumido em um de serviço ao interesse comum, acima dos interesses seccionais: "organização, disciplina, cooperação. Todas as coisas que são independentes de qualquer classe singular". Spengler afirma que Marx tomou essas características externas do que é essencialmente uma idéia ética, e os tornou instrumentos de uma luta de classes, como uma doutrina para o saque.

Enquanto Spengler era motivado pelo "espírito prussiano" da disciplina e do dever, em distinção ao individualismo inglês, que ele via no programa marxista, havia aqueles na Inglaterra que também buscavam uma alternativa ao ethos monetário tanto do capitalismo como do marxismo, e doutrinas como o Crédito Social, o Distributismo e o Socialismo de Guildas, muitas vezes em aliança e centrados ao redor do milieu de A.R. Orage e sua revista The New Age, emergiram e chamaram a atenção de Ezra Pound, T.S. Eliot, Hillaire Belloc, G.K. Chesterton e o poeta neozelandês Rex Fairburn.

Casta & Classe

O "conservadorismo revolucionário" de Spengler et al é predicado no reconhecimento do caráter eterno de valores centrais e instituições que refletem o ciclo - ou morfologia - de culturas no que Spengler chamou de sua época da "Primavera". Um exemplo dessa diferença em ethos entre ciclos tradicionais ("Primavera") e modernos ("Inverno") de uma civilização é visto em manifestações como a casta, como um reflexo espiritualmente fundado das relações sociais, em distinção à classe como entidade econômica; ou profissão como dever social de proveniência divina representada pela corporação de ofícios, como distinta de ser um enfado econômico representado pelos sindicatos (incluindo associações de empregadores) como instrumentos de divisão de classe. A ordem tradicional representa o ethos espiritual e cultural; a época "moderna", o dinheiro, algo reiterado por Spengler em nosso próprio tempo. Os livros sagrados de muitas culturas dizem muito do mesmo, e se poderia apontar para o Livro das Revelações.


O Mito do "Progresso"

Enquanto a Civilização Ocidental se orgulha de ser o epítome do "progresso" através de sua atividade econômica, ela é baseada na ilusão de uma evolução darwiniana linear do "primitivo" ao "moderno". Talvez algumas palavras mais sucintamente expressem a antítese entre as percepções modernista e conservadora tradicional da vida do que o otimismo vivaz do darwinista oitocentista Dr. A.R. Wallace em seu O Século Maravilhoso (1898):

"Não só nosso século é superior a qualquer um que já tenha passado mas...ele pode ser comparado melhor com todo o período histórico precedente. Deve ser assim sustentado que ele constitui o início de uma nova era de progresso humano... Nós homens do século XIX não temos sido lentos em elogiá-lo. O sábio e o tolo, o erudito e o ignaro, o poeta e o jornalista, o rico e o pobre, todos incham o coro de admiração pelas invenções e descobertas maravilhosas de nossa própria era, e especialmente por aquelas inúmeras aplicações da ciência que agora fazem parte de nossa vida quotidiana, e que nos lembram a cada hora de nossa imensa superioridade sobre nossos comparativamente ignorantes ancestrais".

Como a crença de Marx de que o comunismo é o último modo de vida humana, o capitalismo possui a mesma crença. Em ambas visões-de-mundo não há nada além de mais "progresso" de natureza técnica. Ambas doutrinas representam o "fim da história". O tradicionalista, porém, vê a história não como uma linha reta do "primitivo ao moderno" mas como um contínuo fluir, de ondas históricas cósmicas, ou ciclos. Enquanto a "roda da história" de Marx se move para a frente atropelando toda tradição e herança até se deter eternamente em um muro cinzento de concreto e aço, a "roda da história" tradicionalista revolve em um ciclo em um eixo estável, até o momento em que o eixo apodrece - a não ser que esteja suficientemente lubrificado ou seja substituído na hora certa - e os raios caem; para ser substituída por outra "roda da história".

Dentro do contexto ocidental, as revoluções de 1642, 1789 e 1848, ainda que em nome do "povo", buscaram dar poder ao mercador sobre as ruínas do Trono e da Igreja. Spengler escreve sobre esta última era que na Inglaterra, "...a doutrina do Livre Comércio da Escola de Manchester foi aplicada pelas corporações de ofício à forma de bens chamada 'trabalho', e eventualmente receberam formulação teórica no Manifesto Comunista de Marx e Engels. E assim foi completado o destronamento da política pela economia, do Estado pelo banco..."

Spengler chama os tipos marxianos de socialismo de "capitalistas" porque eles não objetivam substituir os valores fundados no dinheiro, "mas possuí-los". Ele afirma do marxismo que ele não é "nada além de um capanga confiável do Grande Capital, que sabe perfeitamente bem como fazer uso dele". Ainda:

"Os conceitos de liberalismo e socialismo são postos em movimento apenas pelo dinheiro. Foram os Equites, o partido do dinheiro, que tornou o movimento popular de Tiberius Gracchus possível; e assim que a parte das reformas que lhes era vantajosa havia sido legalizada com sucesso, eles se retiraram e o movimento entrou em colapso.

Não há movimento proletário, ou mesmo comunista, que não haja operado nos interesses do dinheiro, nas direções indicadas pelo dinheiro, e pelo tempo permitido pelo dinheiro - e isso sem os idealistas entre seus líderes terem a menor suspeita do fato"

É essa identidade de espírito entre capitalismo e marxismo que muitas vezes se tem manifesto no subsídio de movimentos "revolucionários" pela plutocracia. Alguns plutocratas são capazes de discernir que o marxismo e movimentos similares "do povo", são de fato instrumentos úteis para a destruição de sociedades tradicionais e estorvos para a maximização global de lucros. O Duque de Orleans buscava usar "o povo" para os mesmos propósitos na França durante o século XVIII.

O Capitalismo na Dialética Marxista

Enquanto o que é muitas vezes suposto ser "Conservadorismo" é defendido por seus aderentes como o custódio do "livre comércio", que por sua vez é tornado sinônimo de "liberdade", Marx compreendeu o caráter subversivo do Livre Comércio, que é qualquer coisa além de uma tendência conservadora. Spengler cita a posição de Marx em relação ao Livre Comércio expressa em 1847:

"Geralmente falando, o sistema protecionista de hoje é conservador, enquanto o sistema de livre comércio possui um efeito destrutivo. Ele destrói as nacionalidades e torna os contrastes entre proletariado e burguesia mais agudos. Em uma palavra, o sistema de livre comércio precipita a revolução social. E apenas nesse sentido revolucionário eu voto favoravelmente pelo Livre Comércio".

Para Marx, o capitalismo era parte de um processo dialético inexorável que, como na visão progressiva-linear da história, vê a humanidade ascendendo do comunismo primitivo, através do feudalismo, do capitalismo, do socialismo e finalmente - como o fim da história - a um mundo milenarista do comunismo. Ao longo desse desdobramento dialético progressivo a força impulsora da história é a luta de classes pela primazia dos interesses econômicos seccionais. No reducionismo econômico marxiano, a história é relegada à luta:

"[uma luta entre] homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de guilda e aprendiz, em uma palavra, opressor e oprimido...em constante oposição um ao outro, travada ininterruptamente, agora oculta, agora aberta, uma luta que a cada vez terminou, ou em uma reconstituição revolucionária da sociedade em geral, ou na ruína comum das classes em confronto".

Marx corretamente descreve a destruição da sociedade tradicional como intrínseca ao capitalismo, e segue para descrever o que hoje chamamos "globalização". Aqueles que defendem o Livre Comércio enquanto ao mesmo tempo chamam a si mesmos conservadores poderiam querer considerar o motivo pelo qual Marx apoiava o Livre Comércio e o descrevia tanto como "destrutivo" e "revolucionário". Marx o via como ingrediente necessário do processo dialético que está impondo a padronização universal; que é também o objetivo do comunismo.

Marx ao descrever o papel dialético do capitalismo, afirma que onde quer que a "burguesia adquiriu a predominância ela pôs um fim a todas as relações feudais, patriarcais e idílicas". A burguesia ou o que poderíamos chamar de classe mercantil - a qual é atribuída uma posição subordinada nas sociedades tradicionais, mas assume dominância sob o "modernismo" - "tem impiedosamente arrasado" os laços feudais, e "não tem deixado qualquer outro nexo entre homem e homem do que o egoísmo nu", e o "indiferente pagamento em dinheiro". Ele, entre outras coisas, "afogou" a religiosidade e o cavalheirismo "nas águas gélidas dos cálculos egoístas". "Ele resolveu o valor pessoal em valor de troca, e no lugar das inumeráveis liberdades irrevogáveis, estabeleceu aquela única liberdade desarrazoada - o Livre Comércio". Onde o conservador de discernimento se situa em oposição à análise marxiana do capitalismo é onde Marx considera o processo inexorável e desejável.

Marx condenava a oposição a esse processo dialético como "reacionária". Marx estava aqui defendendo comunistas contra as acusações dos "reacionários" de que seu sistema resultaria na destruição da família tradicional, e relegaria as profissões a mero "trabalho assalariado", afirmando que isso já estava sendo feito pelo capitalismo de qualquer jeito e que, portanto, não era um processo a ser resistido - o que seria "Reacionismo" - mas saudado como fase necessário na caminhada rumo ao comunismo.



Tendências Universalizantes

Marx via a necessidade constante de revolucionar os instrumentos de produção como inevitável sob o capitalismo, e isso por sua vez punha a sociedade em um contínuo estado de fluxo, de "incerteza e agitação duradouras", que distingue a "época burguesa de todas as outras". A "necessidade para uma constante expansão do mercado" significa que o capitalismo se espalha globalmente, e portanto dá um "caráter cosmopolita" a "modos de produção e consumo em cada país". Isso na dialética marxista é uma parte necessária da destruição das fronteiras nacionais e culturas distintas como prelúdio para o socialismo mundial. É o capitalismo quem estabelece a base para o internacionalismo. Portanto, quando o marxista clama contra a "globalização" ele o faz como retórica na defesa de uma agenda política; não por uma oposição ética ao globalismo enquanto tal.

A esse processo capitalista internacionalizante Marx identifica os oponentes não como revolucionários, mas como "reacionistas". Os reacionários ficam horrorizados com o fato de indústrias nacionais e locais estarem sendo destruídas, a autossuficiência estar sendo solapada, e "nós temos...uma interdependência universal de nações". Similarmente na esfera cultural, onde "literaturas nacionais e locais" são deslocadas por "uma literatura mundial". O resultado é uma cultura econômica global, e mesmo um humano global, apartado de todos os laços geográficos e culturais, como enaltecido por apologistas da globalização como G. Pascal Zachary. Um tipo de nômade emerge que serve aos interesses de uma economia internacional onde quer que ele seja necessário.

Com esse revolucionamento e padronização dos meios de produção vem uma perda do sentido de ser parte de um ofício ou profissão, ou "vocação". A obsessão com o trabalho se torna um fim em si mesmo, o qual deixa de fornecer um significado superior pelo fato de se reduzir a uma mera função econômica. Em relação à ruína da ordem tradicional pelo triunfo da "burguesia", Marx disse o seguinte:

"Devido ao uso extensivo de maquinário e à divisão do trabalho, o trabalho dos proletários perdeu todo caráter individual, e, consequentemente, todo encanto para o trabalhador. Ele se torna um apêndice da máquina, e é apenas a habilidade mais simples, monótona e facilmente adquirida, que é demandada dele..."

Enquanto as corporações clássicas e as guildas medievais preenchiam um papel que era metafísico e cultural em termos da própria profissão, estes foram substituídos pelos sindicatos e associações patronais como nada além de instrumentos de competição econômica. A totalidade da civilização ocidental, e singularmente, muito do resto do mundo, por causa do processo de globalização, se tornou uma expressão de valores monetários. Porém, a preocupação com o PIB - geralmente a única preocupação da politicagem de urnas - não pode ser um substituto para valores humanos mais profundos. Daí é amplamente percebido que aqueles entre os ricos não são necessariamente o que estão realizados, e o afluente muitas vezes existe em um vácuo, com um anseio indefinido que pode ser preenchido com drogas, álcool, divórcio e suicídio. O ganho material não se iguala com o que Jung chama "individuação". De fato, a preocupação com acúmulo material, seja sob capitalismo ou sob o marxismo, encadeia o homem ao mais baixo nível da existência animalista.

A Megalópole

De interesse particular é que Marx escreve da maneira pela qual a base rural da ordem tradicional sucumbe à urbanização e industrialização, que é o que formou o "proletariado", a massa desenraizada que é defendida pelo socialismo como o ideal e não como uma aberração corrupta do camponês e do artesão. As sociedades tradicionais são literalmente enraizadas no solo, com um senso de continuidade através das gerações. Sob o capitalismo a vida campesina e a vida localizada, são, como disse Marx, tornadas ultrapassadas pela cidade e pela produção em massa. Marx se referiu ao campo sendo sujeito ao "domínio das cidades". Era um fenômeno - a ascensão da Cidade concomitante com a ascensão do comerciante - que Spengler afirma como sintoma da decadência de uma Civilização em sua fase estéril, onde valores monetários imperam.

Marx escreve que o que foi criado foram "cidades enormes"; o que Spengler chama "Megalopolitismo". Novamente, o que distingue Marx em sua análise do capitalismo dos tradicionalistas conservadores, é que ele saúda esse caráter destrutivo do capitalismo. Quando Marx escreve sobre urbanização e da alienação do antigo campesinato e artesãos por sua proletarianização nas cidades, se tornando engrenagens no processo de produção em massa, ele se refere a isso não como a um processo a ser resistido, mas como inexorável e tendo "resgatado parte considerável da população da idiotice da vida rural".

"Reacionismo"

Marx aponta no Manifesto Comunista que os "reacionistas" veem com "grande desapontamento" os processos dialéticos do capitalismo. O reacionário ou conservador no sentido tradicional, é anticapitalista par excellence, porque ele está acima e além do zeitgeist do qual tanto capitalismo como marxismo emergiram, e ele rejeitam na totalidade o reducionismo econômico em que ambos são fundados. Assim a palavra "reacionário", usualmente usada em sentido derrogativo, pode ser aceita pelo conservador como um termo preciso para o que é necessário para uma renascença cultural, ética e espiritual.

Marx condenava a resistência ao processo dialético como "reacionista", e identificava o conservadorismo como a força real em revolta contra o espírito mercantil:

"A classe média baixa, o pequeno manufatureiro, o lojista, o artesão, o camponês. Todos esses lutam contra a burguesia, para salvar da extinção sua existência como frações da classe média. Eles são, portanto, não revolucionários, mas conservadores. Não, mais, eles são reacionários, pois eles tentam reverter a roda da história. Se por acaso eles são revolucionários, eles o são apenas em vistas de sua transferência iminente para o proletariado, eles assim defendem não seu presente, mas seus interesses futuros, eles desertam assim de seu próprio ponto de vista para se situarem no do proletariado".

Essa chamada "classe média baixa" está portanto inexoravelmente condenada ao purgatório da despossessão proletária até o tempo em que reconheça seu papel histórico como classe revolucionária, e "exproprie os expropriadores". Essa "classe média baixa" pode ou emergir do purgatório se juntando as fileiras do povo escolhido proletário, se tornando parte da revolução socialista e ingressando em um novo milênio, ou ela pode descer de seu purgatório de classe, se insistir em tentar manter a ordem tradicional, e ser relegada ao esquecimento, que pode ser acelerado pelos pelotões de fuzilamento do bolchevismo.

Marx devota a seção três de seu Manifesto Comunista a um repudio do "socialismo reacionário". Ele condena o "socialismo feudal" que emergiu entre os velhos remanescentes da aristocracia, que buscava unir forças com a "classe trabalhadora" contra a burguesia. Marx afirma que a aristocracia, ao tentar reafirmar sua posição pré-burguesa, havia na verdade perdido de vistas seus interesses de classe ao ter que se aliar com o proletariado. Isso não faz sentido. Uma aliança das profissões despossuídas no que se tornou o proletariado, com a cada vez mais despossuída aristocracia, é uma aliança orgânica, que encontra seus inimigos tanto no marxismo como no mercantilismo. Marx se enfurecia contra a aliança emergente entre a aristocracia e aquelas profissões despossuídas que resistiam a proletarização. Daí, Marx condena o "socialismo feudal" como "parte eco do passado, parte ameaça do futuro". Era um movimento que desfrutava de apoio significativo entre os artesãos, o clero, os nobres e letrados na Alemanha em 1848, que repudiavam o livre mercado que havia divorciado o indivíduo da Igreja, do Estado e da comunidade, "e posto o egoísmo e o interesse próprio antes da subordinação, da comunalidade e da solidariedade social" (isto é, os elementos do que Spengler definiria como "Socialismo Prussiano"). Em relação a esses "reacionistas", Max Beer, um historiador do socialismo alemão, afirmou o seguinte:

"A era moderna parecia a eles ser construída sobre areia movediça, ser caos, anarquia, ou uma explosão completamente imoral e profana de forças intelectuais e econômicas, que deve inevitavelmente levar a agudos antagonismos sociais, a extremos de riqueza e pobreza, e à tormenta universal. Nesse visão, a Idade Média, com sua firme ordem na Igreja, na vida social e econômica, sua fé em Deus, suas instituições feudais, seus claustros, suas associações autônomas e guildas pareciam a esses pensadores como um edifício bem construído..."

É exatamente tal aliança de todas as classes - outrora veementemente condenada por Marx como "reacionista" - que é necessária para se resistir aos fenômenos subversivos comuns do Livre Comércio e da revolução. Algo do tipo foi visto novamente, como mencionado antes, nas doutrinas pós-Primeira Guerra do Distributismo, do Crédito Social e do Socialismo de Guilda, os primeiros dois pelo menos, tendo recebido ímpeto por encíclicas papais, que viam o perigo do marxismo como subproduto dos excessos do capitalismo, e ambos como formas de materialismo levando a um mundo desprovido de fé. É esse mundo secular e sem fé, onde Mammon governa, o que Spengler viu como a época do declínio, mas talvez também como uma de prelúdio de revolta contra o "dinheiro" e de uma "Segunda Religiosidade".

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Nacional Bolchevismo - Raízes, Essência e Relevância Contemporânea

por Peter Wilberg



Esse ensaio busca fornecer um novo foco político-econômico e uma nova fundação filosófico-espiritual pela qual redefinir o nacional bolchevismo - como nacional marxismo e nacional comunismo, como anticapitalista, antifascista, antirracista, antisionista - e acima de tudo dirigido contra a dominação de todas as nações pelo sistema bancário e monetário internacionais e suas marionetes políticas.

O nacional bolchevismo se opõe tanto às ideologias pseudo-nacionalistas e racistas de muitos partidos de ultra-direita e às ideologias pseudo-marxistas do socialismo "internacional" propagadas pelos partidos trotskistas de ultra-esquerda.

Em contraste ao nacionalismo racista e ao internacionalismo socialista ele reconhece que desde a queda da União Soviética e a desregulação global do sistema bancário, a luta de classes se tornou essencialmente uma luta nacional de todos os povos contra o poder dos bancos e a dominação global do capital financeiro internacional e seus políticos marionetes em diferentes países. A escravidão assalariada corporativa é agora composta e agravada pela escravidão da dívida - a rendição da soberania nacional através do "débito soberano" imposto às instituições feudalistas do capital financeiro internacional - o Banco da Reserva Federal dos EUA, o Banco Central Europeu, o FMI, a OMC, o Banco Mundial e o Banco de Compensações Internacionais na Basiléia. Tudo isso é justificado por políticos e pela imprensa através de uma reverência quase religiosa frente a "estabilidade" do que é vagamente chamado de "mercados financeiros".

O nacional bolchevismo reconhece que vivemos em uma era caracterizada pela financialização global total do capitalismo, permitindo ao "capitalismo monetário" internacional (Marx) se tornar totalmente parasitário sobre o capitalismo industrial. Isso está levando à ruína de economias nacionais inteiras (tais como a da Grécia, Espanha e Itália) em uma escala nunca vista desde as dívidas impostas sobre a Alemanha pelo Tratado de Verselhes. Porém economistas burgueses e a mídia capitalista continuam a propagar a "Grande Mentira" de uma "crise financeira global" - que em essência não é nada além de uma crise dos próprios bancos privados internacionais. Esses bancos vampiros estão agora recebendo trilhões de euros dos bancos centrais europeus para resgatá-los de suas crises - isso mesmo um resultado inevitável de sua ganância de acumular dinheiro puramente como dívida e juros. O resultado é que os povos da Europa e dos EUA estão agora sendo lançados na pobreza, no desemprego e na falta de moradia em escala sem precedentes através do "fascismo fiscal" e do "terrorismo de austeridade" internacionalmente imposto.

Ninguém porém - mesmo na esquerda socialista ou na direita nacionalista - ainda ousa sugerir a única "solução" real para essa "crise financeira global" - nomeadamente a criação de Bancos Nacionais do Povo totalmente estatais, cada um dos quais é livre para afirmar o direito soberano de todas as nações. Esse é o direito de emitir seu próprio dinheiro livre de juros sem ter que pegar emprestado de bancos privados e internacionais - um direito há muito rendido pelos governos ao sistema bancário privado internacional.

Ainda que apoiando os esforços educacionais de movimentos por "reforma monetária" radical tais como "Dinheiro Positivo" e os movimentos por Reforma Monetária e Sistema Bancário Público nos EUA, o Partido Nacional do Povo rejeita sua pressuposição essencialmente ingênua de que o direito das nações de emitirem sua própria moeda soberana e livre de dívidas pode ser alcançado simplesmente pela persuasão racional dirigida aos políticos parlamentares tanto da esquerda como da direita - assim ignorando o conflito fundamental de interesses entre os povos proletários de todas as nações e os instrumentos e beneficiários do capital financeiro internacional. A verdadeira democracia nacional não é a falsa democracia parlamentar, mas a democracia econômica - a democratização do local de trabalho e das corporações industriais. Verdadeira democracia internacional significa desafiar as ameaças e a ditadura indireta dos mercados financeiros. Nenhuma dessas formas de democracia pode ser alcançada por qualquer coisa além de uma "ditadura do proletariado" nacional, ou seja, "nacional socialismo" ou "nacional bolchevismo" no sentido literal e marxista desses termos - livre das distorções do antissemitismo, racismo e etnicismo - todas as quais apenas submetem as pessoas de todas as nações ao truque do "dividir para conquistar".

Pois o fato permanece que apesar de seus crimes genocidas e ideologicamente deturpados contra judeus, ciganos, comunistas e socialistas, uma ditadura nacional socialista - seja na forma do bolchevismo ou do nazismo, foi uma precondição necessária para desafiar a ditadura invisível dos banqueiros e financistas internacionais através da emissão de um tipo de moeda soberana - os elementos genuinamente "nacionais" e "socialistas" do assim chamado "nacional socialismo" combinados. O sucesso econômico dessa ditadura - apesar da retribuição massiva que ela trouxe sob a forma de boicotes comerciais ao redor do mundo - é agora reconhecido por economistas por todo o mundo que de outra forma não possuem qualquer tipo de simpatia pelo hitlerismo:

"Através de uma política monetária independente de crédito soberano e um programa de pleno emprego através de obras públicas, o Terceiro Reich foi capaz de transformar uma Alemanha falida, desprovida de colônias ultramarinas, na economia mais forte da Europa no espaço de quatro anos, mesmo antes que os gastos com armamentos começassem". -Henry C.K. Liu, Asia Times (24 de maio de 2005).

"A Alemanha emitiu moeda livre de dívida e juros de 1935 em diante, o que explica a assombrosa emergência da Alemanha da depressão ao grau de potência mundial em cinco anos. O governo alemão financiou todas as suas operações de 1935 a 1945 sem ouro, e sem dívida". - Sheldon Emry, Billions for the Bankers, Debts for the People

"...os nacional socialistas, que chegaram ao poder em 1933, atrapalharam os planos do cartel bancário internacional através da emissão da própria moeda. Nisso eles seguiram o mesmo rumo que Abraham Lincoln, que financiou a Guerra Civil Americana com papel-moeda emitido pelo governo sob o nome de 'Greenbacks'. Hitler começou seu programa nacional de crédito arquitetando um plano de obras públicas. Projetos marcados para financiamento incluíam controle de enchentes, reparo de prédios públicos e residências privadas, e construção de novos prédios, estradas, pontes, canais e portos. Um bilhão de notas não-inflacionárias, chamadas de Certificados do Tesouro, foram então emitidas contra esse custo. Milhões de pessoas focam colocadas para trabalhar nesses projetos, e os trabalhadores foram pagos com Certificados do Tesouro. Essa moeda emitida pelo governo não era lastreado por outro, mas era lastreado por algo de real valor. Era essencialmente um recibo por trabalho e materiais entregues ao governo. Os trabalhadores então gastaram os Certificados em outros bens e serviços, criando mais empregos para mais pessoas. Desse modo o povo alemão se livrou da dívida esmagadora imposta sobre eles pelos banqueiros internacionais. Dentro de dois anos, o problema de desemprego havia sido resolvido e o país estava novamente em pé. Ele tinha uma moeda estável e sólida, nenhuma dívida, e nenhuma inflação, em uma época em que milhões de pessoas nos EUA e em outros países ocidentais estavam ainda desempregadas e dependendo de auxílio do governo. Em cinco anos, a Alemanha deixou de ser a nação mais pobre na Europa para se tornar a mais rica. A Alemanha até mesmo conseguiu restaurar o comércio exterior, ainda que lhe tivesse sido negado crédito e haja se deparado com um boicote econômico no exterior. Ela conseguiu isso pelo uso de um sistema de escambo: equipamentos e commodities eram trocadas diretamente com outros países, desviando assim dos bancos internacionais. Esse sistema de troca direta ocorreu sem dívida e sem déficit comercial. Ainda que Hitler tenha justamente se tornado infame nos livros de história, ele era bastante popular com o povo alemão, pelo menos por um tempo. Stephen Zarlenga sugere em A Ciência Perdida do Dinheiro que isso se deu porque ele temporariamente resgatou a Alemanha da teoria econômica inglesa - a teoria de que o dinheiro deve ser emprestado contra as reservas de um cartel bancário privado ao invés de emitido diretamente pelo governo". - Ellen Brown, Como uma Alemanha falida resolveu seus problemas de infraestrutura.



Os comunistas alemães obviamente, teriam ido ainda mais longe que os nacional socialistas, prometendo em seu manifesto que uma vez no poder:

"...nós deteremos impiedosamente as maquinações dos magnatas banqueiros que impõem sua vontade sobre nossa terra hoje. Nós implementaremos a nacionalização proletária dos bancos e anularemos todas as dívidas para com capitalistas alemães e estrangeiros".

Nos anos do pós-guerra, foi apenas através de seus "Landesbanks" públicos (que desempenharam um papel vital no "Milagre Econômico" da Alemanha) que o monopólio de bancos privados gananciosos sobre as reservas de moeda e crédito do país foi evitado por várias décadas. É por isso que não é surpresa que desde a década de 90 o Deutsche Bank AG privado, junto com o FMI e a Comissão Europeia põem uma enorme pressão sobre o governo alemão para privatizar esses bancos públicos - que foram fundados no século XVIII como instituições não-lucrativas para oferecer crédito a juros baixos para indivíduos e pequenas e médias empresas. O resultado dessa pressão foi que em 2001 a Comissão Europeia conseguiu remover as garantias públicas de crédito dos Landesbanks - de modo a empurrar sua fatia incomumente elevada do mercado do sistema bancário na Alemanha nas mãos dos grandes bancos privados e transformá-los em instrumentos da negociação especulativa desregulada.

Sobre o termo "Nacional Bolchevismo"

Ainda que o termo "nacional bolchevismo" não fosse, como na Rússia hoje, o nome de qualquer partido ou grupo organizado na Alemanha, é na Alemanha que ele teve suas raízes - os próprios termos "nacional comunismo" e "nacional bolchevismo" tendo sido pela primeira vez cunhados pelos comunistas alemães Heinrich Laufenberg e Fritz Wolffheim (este último sendo judeu por nascimento) ao fim da Primeira Guerra Mundial. O que definia sua posição era um apelo aos conselhos de trabalhadores e soldados alemães, agora livres dos ditados do Kaiser e seus generais, para que rejeitassem o Tratado de Versalhes e ao invés continuassem a guerra contra a Entente Anglo-Francesa - por dessa vez como uma guerra nacional revolucionária - conduzida em aliança com a Rússia Soviética contra o capitalismo financeiro internacional.

Ainda que seu apelo a Lênin para que seguisse essa linha fosse rejeitado, foi seu slogan que eles usaram para definir o "nacional bolchevismo": "Tornar a questão do povo uma questão da nação; então a questão da nação se tornará a questão do povo!".

"Laufenberg e Wolffheim foram expulsos da KPD após eles terem tentado resistir à liderança de Wilhelm Pieck. Radek, após demonstrar entusiasmo inicial, logo também denunciou o 'nacional bolchevismo' de Laufenberg veementemente. Laufenberg seguiu para se tornar um membro fundador do Partido Comunista dos Trabalhadores da Alemanha (KAPD), unindo-se a Wolffheim na conferência de Heidelberg estabelecendo o partido. Por volta de 1920, porém, ele havia sido expulso do partido, com seu nacional bolchevismo como a razão oficial para sua partida. Laufenberg foi lamentado como um pioneiro do nacional bolchevismo por Ernst Niekisch que escreveu que 'em 1919 Laufenberg já pensava em termos de continente'". - Karl Otto Paetel

"Laufenberg...que nos tempos de pré-guerra já havia feito seu nome como historiador do movimento proletário de Hamburg, enojado pelo sectarismo do proletariado e pela luta impotente de todos contra todos enquanto a nação sofria de modo indizível sob a opressão das potências vitoriosas, demandou, junto a seu amigo Wolffheim, a construção de uma organização popular livre e coesa para derrubar o capitalismo financeiro internacional. Eles buscaram conquistar aliados de todas as camaradas entre o povo amante da liberdade, conspirando também com oficiais, porque somente a unidade de soldados e trabalhadores poderia libertar a nação. Os partidos oficiais difamaram como 'nacional bolcheviques'..." - Berliner Volkszeitung

"Nacionalismo Social Revolucionário" versus "Nacional Socialismo"

A derrota do "nacional comunismo" de Laufenberg e Wolffheim não foi de modo algum o fim da história em relação à história do nacional bolchevismo na Alemanha, ou seja, o princípio da união de facções tanto da Direita como da Esquerda, incluindo membros dissidentes tanto dos partidos nazista e comunista. Em 1930, um novo passo nessa direção foi iniciado sob o estandarte de um novo "nacionalismo social revolucionário" - dessa vez das associações da direita nacionalista e da juventude nacionalista. Daí a seguinte declaração de imprensa do "Die Kommenden" ("Os que estão por vir") um semanário da Associação da Juventude Nacional Revolucionária [Bündisch-Nationalrevolutionären Jugend].

"No dia da Ascenção em 1930, o que por muito tempo havia sido um grupo frouxamente conectado de jovens nacional revolucionários que viam o socialismo como a essência do verdadeiro nacionalismo foram convocados de diferentes partes do país para formarem um 'grupo nacionalista socialista revolucionário' ["Gruppe social revolutionärer Nationalisten" ou GSRN]. O grupo não deseja formar uma nova organização, mas criar um guarda-chuva abarcando todos os jovens com uma visão-de-mundo similar de diversos agrupamentos e associações nacionalistas - incluindo tanto nacional socialistas como pessoas da 'esquerda' - sob o slogan de 'Nação e Socialismo' e sua realização na forma de um estado baseado em conselhos populares".

O objetivo do Grupo era não só construir uma "Frente Anticapitalista da Juventude de Direita e Esquerda" mas também uma antifascista - daí o uso do termo "nacionalismo socialista" ao invés de "nacional socialismo". E como seu fundador - Karl Otto Paetel - aponta, o fato de que ela incluía membros oficiais do Partido Nacional Socialista de Hitler era para que o partido nazista pudesse ele próprio ser infiltrado e sua liderança controlada, e seu programa transformado em um autenticamente socialista e livre de elementos fascistas. De fato um novo e mais radicalmente socialista manifesto para o partido nacional socialista foi distribuído na Conferência do Partido em Nuremberg. Este concluía com as seguintes palavras:

"Já que o controle total da indústria alemã se encontra hoje nas mãos de órgãos do capitalismo financeiro internacional, a revolução nacional é dirigida incondicionalmente contra o capitalismo financeiro internacional. Como resultado, qualquer revolução alemã realizada com plenitude imediatamente causará o uso de todos os poderes e meios pela América e suas alianças de países contra o estado proletário e campesino alemão. A primeira tarefa da política externa nacional socialista é portanto a organização de uma defesa revolucionária contra as potências imperialistas, unidade com a União Soviética e apoio para movimentos revolucionários em todos os países do mundo que se opõe ao capital financeiro internacional".



Quando, em 1931, uma circular foi emitida a um certo número de indivíduos, partidos e associações nacionalistas aparentemente "de direita" na Alemanha perguntando se eles apoiariam uma guerra imperialista contra a União Soviética, a resposta foi majoritariamente um sonoro "Não!". Apenas um porta-voz nazista respondeu ambiguamente - dizendo que não se podia imaginar seriamente qualquer país europeu atacando a Rússia. Outro grupo nazista disse estar "ocupado demais com tarefas organizacionais urgentes" para responder a pergunta. E como sabemos em retrospectiva, Hitler já estava planejando uma guerra contra a Rússia quando, após chegar ao poder, ele assinou o pacto nazi-soviético.

No mesmo dia que Hitler foi nomeado Chanceler - 30 de janeiro de 1933 - o primeiro "Manifesto Nacional Bolchevique" foi lançado na Alemanha por Karl Otto Paetel - do qual apenas algumas cópias foram parar nas mãos de leitores interessantes antes que a maioria fosse confiscada. Os nacionalistas social revolucionários logo passaram para a clandestinidade, como o fez o Partido Comunista Alemão - com o qual o próprio Paetel insistia ser vital formar uma aliança. Uma vez no poder Hitler de fato ofereceu um modelo para combater o poder do capitalismo financeiro internacional - mas somente se aliando também com os capitães do capitalismo industrial alemão e efetivamente estabelecendo um estado fascista e "nacional capitalista" no lugar de um estado verdadeiramente "nacional socialista".

Nacional Bolchevismo, Nacional Socialismo e "Strasserismo"

Como Karl Otto Paetel aponta, o termo "nacional socialismo" não foi inventado por Hitler e só alcançou notoriedade por sua incorporação na designação oficial do partido que ele veio a liderar, ou seja, o "Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães". Até que esse partido tivesse alcançado o status de um movimento de massas e organização política de sucesso, termos como "socialismo alemão", "nacionalismo socialista", "nacional comunismo" - e "nacional socialismo" - eram todos símbolos de um reconhecimento geral de que o sofrimento do povo alemão e seus interesses enquanto nação não podiam ser realizados exceto sobre uma base socialista anti-imperialista. Na verdade, porém, o NSDAP aceitou em suas fileiras "monarquistas e republicanos, cristãos e anti-cristãos, revolucionários sociais e reacionários sociais...grupos que se sentiam eles próprios como nacionalistas de direita e como socialistas de esquerda...". Porém quanto mais Hitler controlava o partido mais ele parecia se afastar de uma plataforma plenamente socialista - não só pela singularização do "marxismo" como um de seus principais inimigos. A ala esquerdista do partido, perturbada por essa tendência, eventualmente encontrou um representante em Otto Strasser. Persuadido a se unir ao partido em 1925 por seu irmão Gregor Strasser - que eventualmente se tornaria uma vítima da "Noite dos Punhais Longos" - Otto Strasser anunciou em 4 de julho de 1930 que "os socialistas estão abandonando o NSDAP".

Seguido por alguns punhados de desertores, ele formou uma "Liga de Combate Nacional Socialista Revolucionária" com um novo símbolo (martelo e espada), uma nova saudação (Viva a Alemanha!), um programa que incluía a nacionalização dos bancos, a crença em uma aliança com os bolcheviques na União Soviética e também apoio para as lutas anti-imperialistas dos povos orientais - por exemplo China e Índia. Ele também cunhou o termo "Frente Negra" como termo guarda-chuva de modo a sugerir a existência de uma "Ordem" secreta de números bem maiores englobando agrupamentos nacional revolucionários dissidentes e membros ainda ativos das SA e do NSDAP.

"Segundo sua essência, nós compreendemos o nacional socialismo como igualmente hostil à burguesia capitalista e ao marxismo internacionalista, e vemos sua tarefa como a superação de ambos, não obstante o fato de que no marxismo o que em essência é um sentimento adequado pelo socialismo está ligado aos falsos ensinamentos do materialismo liberal e do internacionalismo, e que na burguesia o que em essência é um sentimento adequado pelo nacionalismo está ligado aos falsos ensinamentos do racionalismo liberal e do capitalismo... Nós portanto não vimos e não estamos vendo diferença essencial em nossa oposição ao marxismo e à burguesia, na medida em que o liberalismo operando em ambos os torna igualmente nossos inimigos. Por essa razão nós percebemos o slogan cada vez mais unilateral da liderança do NSDAP 'contra o marxismo' com uma meia-verdade, e nos preocupamos cada vez mais com que por trás disso existisse uma simpatia pela burguesia, que com os mesmos slogans, persegue seus próprios interesses capitalistas com os quais nós nunca tivemos e ainda não temos nada em comum".

A ideia do marxismo como tendo tão somente um "sentimento" adequado pelo socialismo - ao invés de ser a crítica mais profunda, incisiva, compreensiva e radical do capitalismo já articulada - e assim a fundação mais sólida para o "socialismo" - tanto curiosa como evidentemente questionável, junto com sua identificação com o "materialismo liberal" (?) e o "internacionalismo".

Pois ao mesmo tempo que Strasser estava escrevendo, Stálin, sob o estandarte do marxismo leninista, já havia, em oposição a Trótski, consolidado o conceito de "nacional socialismo" através do princípio de construir e defender primeiramente o "socialismo em um só país".

A incompreensão básica de Strasser em relação ao marxismo e sua aparente falta de consciência em relação a sua interpretação leninista e stalinista o impediram de rascunhar seu próprio programa político-econômico com base em uma fundação socialista marxista ou leninista.

Nós vemos aqui a mesma confusão - ou pura falta de conhecimento e entendimento - tanto de Marx como do marxismo que se encontra nos escritos dos principais mentores econômicos de Hitler, em particular Gottfried Feder, cujos escritos foram dirigidos primariamente contra a usura - capital de empréstimo com juros e o que ele chamava "mamonismo". Assim Feder escreveu:

"É assombroso ver como o mundo intelectual socialista de Marx e Engels...paralisa, como se por comando, diante dos juros do capital prestamista. A sacralidade dos juros é tabu; os juros são sacrossantos..."

Só se faz necessário contrastar essas palavras com as do próprio Marx, que ralhou contra a usura e contra o que Feder chamou de mamonismo - o que o próprio Marx chamou de "o Monoteísmo do Dinheiro".

"A usura centraliza a riqueza monetária," diz Marx. "Ela não altera o modo de produção, mas se conecta a ela como um parasita e a torna miserável. Ela sua seu sangue, mata seus nervos, e compele a reprodução a prosseguir sob condições ainda mais desencorajadoras...o capital usurário não confronta o trabalhador como capital industrial', mas "empobrece esse modo de produção, paralisa as forças produtivas ao invés de as desenvolver".

"Sob a forma de juros a totalidade do excedente sobre os meios necessários de subsistência (a quantidade do que se torna salário depois) dos produtores podem ser aqui devorados pela usura...".

Por outro lado, é verdade dizer que em seu próprio tempo Marx foi incapaz de prever o papel crescentemente "parasitário" que o capitalismo usurário desempenharia em empobrecer as economias nacionais e desviar os lucros do capitalismo industrial para a esfera absolutamente improdutiva da especulação financeira - uma "economia de cassino" totalmente divorciada da economia real e sugando capital excedente tanto da indústria como do proletariado. Hoje esse processo alcançou sua apoteose, uma tornada possível, como seria de esperar de uma perspectiva marxista, por desenvolvimentos tecnológicos nos meios de produção - nesse caso ,porém, os próprios meios de produção de dinheiro - sua digitalização em forma eletrônica. Assim a ênfase de Feder nos efeitos catastróficos do cada vez mais insustentável fardo dos juros colocados pelo capital usurário tanto sobre produtores como consumidores, tanto sobre o capitalismo industrial como sobre o proletariado - resultando também no empobrecimento da classe média - possui uma validade ainda maior hoje do que em sua própria época. E deve ser notado que ele também insistia - como Marx já havia feito no Manifesto Comunista - que o estado assumisse o papel de fornecer dinheiro livre de juros para investimento em indústria, infraestrutura, inovação técnica, cultura, educação e bem-estar social.



"Naz-Bol" versus "Nac-Bol"

Para não se confundir com o Partido Nacional Bolchevique Russo de Eduard Limonov, o que é promovido por ideólogos alemães confusos hoje como "Naz-Bol" - um termo que eles usam bem explicitamente para significar "comuno-nazismo" ou "nazi-bolchevismo" - não tem nada a ver com o verdadeiro bolchevismo nacional ou "Nac-Bol". Isso é demonstrado pelo fato de que todos os principais indivíduos e agrupamentos que poderiam ser descritos como "nacional bolcheviques" na Alemanha do entre-guerras - incluindo o principal heroi desses novos nazi-bolcheviques - Otto Strasser - foram impiedosamente perseguidos quando Hitler chegou ao poder - levando ao exílio desde e ao assassinato de seu irmão, Gregor Strasser. Então novamente, o principal heroi "nacionalista" dos "Naz-Bols" - Ernst Niekisch - foi ele mesmo ativo na resistência clandestina anti-nazista ("Resistência" sendo o título de um de seus livros mais famosos) e após sua prisão em 1937 foi sentenciado a prisão perpétua pela Suprema Corte nazista por "traição literária". Enquanto a Fritz Wolffheim, ele morreu em um campo de concentração nazista - como se deu com muitos outros.

Todas as figuras fundadoras do nacional-bolchevismo, junto com soldados, trabalhadores e jovens que os seguiram, haviam sido inteligentes "andarilhos no limbo" - incapazes de compartilhar tanto das simplificações racistas e pseudo-socialismo dos nazistas (junto a sua brutal supressão imperial dos direitos soberanos de outras nações) ou com o partido comunista (que havia aceito a recomendação de Lênin de aceitar o ruinoso Tratado de Versalhes).

O que tornava o antissemitismo político e racial fanático de Hitler tanto absurdo como irrelevante para o sentido político e econômico válido dos termos "nacional bolchevismo" e "nacional socialismo" é que, como o próprio Marx escreveu em seu ensaio "Sobre a Questão Judaica":

"O dinheiro é o deus ciumento de Israel, em face do qual nenhum outro deus pode existir. O dinheiro degrada todos os deuses do homem - e os transforma em commodities. O dinheiro é o valor auto-estabelecido universal de todas as coisas. Ele, assim, roubou todo o mundo - tanto o mundo dos homens como o da natureza - de seu valor específico...O deus dos judeus assim se tornou secularizado e se tornou o deus do mundo".

"O judeu se emancipou de um modo judaico, não apenas porque ele adquiriu poder financeiro, mas também porque, através dele e também à parte dele, o dinheiro se tornou um poder mundial e o espírito prático judaico se tornou o espírito prático das nações cristãs. Os judeus se emanciparam na medida em que os cristãos se tornaram judeus... o capitão Hamilton, por exemplo, reporta:

'O devoto e politicamente livre habitante cristão da Nova Inglaterra...não faz o menor esforço para escapar das serpentes que o esmagam. Mammon é seu ídolo que ele adora não só com seus lábios mas com toda a força de seu corpo e sua mente. Em sua opinião o mundo não é mais que uma Bolsa de Valores, e ele está convicto de que ele não possui outro destino aqui embaixo além de se tornar mais rico que seu vizinho. O comércio ocupou todos os seus pensamentos, ele não possui outra recreação além de trocar objetos. Quando ele viaja ele carrega, por assim dizer, seus bens e seu balcão nas costas e fala apenas de juros e lucros. Se ele perder de vistas seu próprio negócio por um instante é apenas para espiar os negócios de seus competidores'

De fato, na América do Norte, a dominação prática do judaísmo sobre o mundo cristão alcançou como sua expressão normal e nada ambígua que a pregação do próprio evangelho e o ministério cristão se tornassem artigos de comércio, e o comerciante falido negocia no evangelho como o pastor evangélico que enriqueceu participa de acordos comerciais."

Marx então cita Beaumont:

"O homem que você vê na chefia de uma congregação respeitável começou como comerciante; seu negócio tendo falido, ele se tornou pastor. O outro começou como pastor, mas assim que tinha algum dinheiro à disposição abandonou o púlpito para se tornar comerciante. Nos olhos de muitas pessoas, o ministério religioso é verdadeiramente uma carreira empresarial".

Segundo Marx então, a secularização econômica total do judaísmo nas supostamente "cristãs" sociedades capitalistas tornou toda a dimensão racial da judiaria junto com o ritualismo remanescente de judeus religiosos barbados - constantemente caricaturizado na propaganda nazista - um fenômeno completamente marginal e irrelevante. Em contraste, Franz Schauwecker escreveu sobre a "germanidade" como não tendo nada a ver com aparência física ou "ciência" racial, mas como uma crença na realização de um certo "valor espiritual" particular.

"Essa piedade dos alemães habita nos sermões alemães de Eckhart, nas fugas, prelúdios e corais de Bach, nas sonatas de Beethoven, nos feitos de Frederico o Grande e da dinastia Hohenstaufen, no grande sentimento de mundo de Goethe e nos exércitos alemães... O reino dos alemães é o reino de Deus".

Hoje não é o nazismo alemão mas o sionismo nazista - sionazismo - que continua a tradição hitlerista de rejeitar a própria noção de um "judeu alemão" - a base de seu antissemitismo. É o sionazismo que transformou os palestinos em seus próprios "judeus" - elementos "estranhos" e perigosos para a "nação". Isso não é surpreendente. Pois não só o movimento sionista se inspirou no nacional socialismo alemão de variedade hitlerista - ele também encorajou ativamente os nazistas a manterem e até mesmo a ampliarem sua perseguição dos judeus na Alemanha - precisamente para encorajar sua fuga e ocupação da Palestina, levando à expulsão impiedosa dos palestinos de sua própria terra, entre sonhos mal escondidos com e tentativas de genocídio.


Uma Nova Fundação Espiritual e Filosófica para o Nacional-Bolchevismo

O Partido Nacional do Povo não é antissemita ou racista, e não se inspira na história, religiões e identidade do "povo". Ao invés ele é completamente marxista - e ainda assim acrescenta uma dimensão espiritual ao marxismo, pegando a deixa do ensaio de Marx "Sobre a Questão Judaica". Pois é nesse ensaio que Marx reconheceu que a essência do judaísmo em seu tempo não tinha mais a ver com ser religiosamente ou "racialmente" judeu, mas era essencialmente uma religião secular secreta - um "Monoteísmo do Dinheiro" que agora permeia todos os países e culturas capitalistas, de qualquer religião ou etnia.

Assim ainda que tenha sido historicamente verdadeiro que muitos judeus foram forçados a praticar a usura e a se tornarem banqueiros por terem sido banidos de todos os outros ofícios por seus governantes cristãos (que eles próprios eram proibidos por sua religião de praticar a usura) e ainda que muitos banqueiros notórios como os Rothschilds sejam de fato judeus, muitos outros como J.P. Morgan não eram. A realidade ainda mais fundamental é que em princípio o sistema bancário capitalista internacional moderno jamais foi dominado por indivíduos de qualquer religião ou raça - mas ao invés sempre serviu para erradicar ou marginalizar todas as culturas étnicas - incluindo tanto Islã, Cristianismo e até mesmo o próprio Judaísmo religioso ortodoxo. Daí o mote de que o "antissemitismo é o socialismo dos tolos".

Marx não era nem um "materialista" ateu cru nem um cientista "positivista" ou "objetivista". Isso é deixado claro em suasTeses sobre Feuerbach - em que ele critica todas as formas prévias de materialismo por não reconhecer a natureza essencialmente subjetiva da atualidade sensorialmente percebida e da atividade sensorial humana. Porém ainda que não fosse um materialista no sentido convencional, Marx implicitamente reconheceu duas formas de "imaterialismo" - um religioso e o outro econômico e monetário.

O que Marx reconheceu foi que o dinheiro possui suas raízes na natureza aparentemente intangível ou imaterial do "valor de troca" das commodities - em oposição a sua realidade sensual ou "material" e valor de uso como objetos. Quando a fórmula "vender para comprar" de economias de mercado mais simples que Marx denominou Commodity-Dinheiro-Commodity (C-M-C) foi substituída pela fórmula "comprar para vender" de M-C-M (Dinheiro-Commodity-Dinheiro) isso foi refletido no crescimento dos monoteísmos religiosos que viam Deus, como o Dinheiro como possuindo o poder de governar o homem e de criar coisas como commodities materiais a partir do nada.

Primeiro o "espírito" do dinheiro, ou seja, a natureza misteriosamente imaterial do valor de troca das commodities - foi "materializado" na forma das próprias commodities materiais - tais como o ouro e outras moedas materiais. Hoje ele nem ao menos assume a forma de papel mas ao invés a forma verdadeiramente fantasmagórica ou imaterial do mero "dinheiro número", "dinheiro digital" ou "dinheiro virtual" - dinheiro fictício literalmente criado a partir do nada por bancos privados.

A dimensão espiritual do nacional bolchevismo pode ser compreendida como uma forma de "marxismo invertido" - uma que reconhece o Deus do Dinheiro a partir do qual parece que todas as coisas são "criadas" ou "materializadas" como tão somente a imagem-espelho econômica perversa de uma consciência imaterial o "espírito" - uma consciência universal-divina da qual todas as coisas e todos os entes já são uma manifestação e expressão.

Essa filosofia opõe um "Monismo da Consciência" ao que Marx chamou de "Monoteísmo do Dinheiro". Esse monoteísmo é a essência de todas as formas de monoteísmo religioso que postulam um deus supremo criador para o qual a consciência é ela própria uma forma de propriedade privada - um Deus que "possui" ao invés de SER consciência.

Rejeitar os monoteísmos religiosos porém, não implica um retorno ao politeísmo pagão - pois a multiplicidade de deuses adorados em tradições espirituais e religiosos do passado se tornou hoje apenas uma imagem-espelho da multiplicação de marcas de consumo e commodities. De fato tais tradições hoje se tornaram comercializadas como "commodities espirituais" em si mesmas - dirigidas a "consumidores espirituais" em busca de uma identidade espiritual - e ávidos por alcançá-la através de identificações de todos os tipos, sejam étnicas, religiosas, políticas ou nacionais.

Por outro lado, não é menos importante reconhecer que indivíduos, grupos e comunidades de todos os tipos - sejam étnicas, vocacionais, linguísticas ou religiosas, junto com "povos" inteiros, possam de fato partilhar de tendências e potenciais criativos comuns, "humores fundamentais" (Heidegger), "sentimentos valorativos" (Nietzsche) ou "qualidades de consciência" (Wilberg) e que essas podem ser ou afirmadas e refletidas ou desvalorizadas e marginalizadas no estado nacional e sua cultura.

Aí se encontra o perigo porém - pois a rotulação e propagandização comercial e/ou política dessas tendências, qualidades e sentimentos de valor compartilhados podem facilmente se transformar em um instrumento do "Deus Verdadeiro" que efetivamente governa internacionalmente - o Deus do Dinheiro universal que é a "desvalorização de todos os valores".

"O dinheiro é o valor universal auto-estabelecido de todas as coisas. Ele, portanto, roubou o mundo inteiro - tanto o mundo dos homens e da natureza - de seu valor específico". - Karl Marx, Sobre a Questão Judaica

Na busca e consumo de identidades da economia e cultura capitalista global, o Dinheiro é o "Deus Verdadeiro". O Monoteísmo do Dinheiro que governa o mundo hoje porém, não é senão uma imagem-espelho perversa de uma realidade metafísica diferente - uma que só pode se refletir em uma filosofia espiritual que pode ser chamada de "Monismo da Consciência" ou "O Princípio de Consciência".

O Princípio de Consciência

Esse é o reconhecimento de que a natureza última da realidade reside, em princípio, em uma consciência singular ("monística") e universal - uma que não é a propriedade privada de qualquer ser ou seres, mesmo de "Deus" entendido como "Ser Supremo".

Essa consciência não é mero "produto" imaterial de qualquer coisa aparentemente "material" como o corpo humano ou cérebro. Não é uma consciência que é "sua" ou "minha", a propriedade privada de pessoas ou um produto de seus cérebros, mas uma consciência que é transpessoal, universal e a própria essência do divino - tanto abarcando como transcendendo identidades individuais, grupais e nacionais. Todas as coisas e todos os mundos, todos os entes e todos os corpos, todos os egos e identidades são porções individualizadas, expressões ou corporificações dessa consciência divina-universal que É a própria essência do que chamamos "Deus".

Desde essa perspectiva filosófico-espiritual, "comunismo" não é "coletivismo" mas uma sociedade comunista não-estatal em que, em acordo com as palavras o próprio Manifesto Comunista: "o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos".

Essa afirmação de Marx simplesmente não computa com qualquer forma de "individualismo" liberal ou burguês do tipo que promove identificação com a ganância competitiva do ego individual ou "sujeito". Nem porém, computa com qualquer tentativa de alcançar transcendência espiritual por meio da rendição do ego à identificação com uma vontade coletiva ou "sujeito" - seja personificado no estado ou no "super-ego" de um Líder.

O egoísmo burguês é "o livre desenvolvimento de cada um" não são a mesma coisa - de fato elas são o exato oposto uma da outra. Pois a estrada da verdadeira liberdade e realização individuais não é ao longo do poder do dinheiro mas pelo poder inato e pelo potencial de consciência ou subjetividade enquanto tais - compreendias não como qualquer forma de "ego" ou "sujeito", mas como "espírito" e "alma".

O novo princípio anímico-espiritual do nacional bolchevismo - O Princípio de Consciência - não afirma nem o individualismo egoísta, nem o coletivismo; ele não é nem adoração de um ego individual ou sujeito (humano ou divino) nem subserviência a um "sujeito" coletivo.

Ao invés é o reconhecimento de que cada indivíduo é uma incorporação individualizada de uma subjetividade universal ou consciência - uma "alma do mundo" ou "alma universal" onipresente.

Ainda assim não há somente três mais quatro dimensões de consciência ou "subjetividade" - a individual, a coletiva, a universal - e a intersubjetiva ou dimensão relacional. E é acima de tudo essa quarta dimensão - a maneira na qual indivíduos recebem, afirmam, reconhecem e se relacionam uma com a outra como indivíduos dentro da nação, estado ou coletivo de qualquer tipo que constitui os eixos fundamentais de uma mudança revolucionária, ou seja, se eles o fazem competitivamente e egoisticamente ou de uma maneira que reconhece todos os indivíduos - e todos os povos e culturas - como expressão singular de uma consciência universal ou "espírito" cada qual com sua "alma" única.

O nacional bolchevismo é portanto aquilo que eu chamo de "socialismo com alma" - este sendo o exato oposto do caráter essencialmente desalmado e destruidor de almas do capitalismo, que (como Marx sabia tão bem) transforma relações entre seres humanos em relações entre coisas - commodities - assim esvaziando as relações humanas de toda profundidade anímico-espiritual.

"Espírito" e "alma" são por sua vez nada mais que dimensões externa e interna de consciência. Assim apenas aprendendo a investir cada vez mais consciência em nossas vidas quotidianas, relacionamentos e mundo circundante podemos transformar " acumulação de capital" em uma acumulação de consciência - e as novas percepções a que isso dá origem.

Historicamente porém, o desenvolvimento das relações de propriedade e da sociedade de classe caminhavam junto com a ideia de que "subjetividade" ou a própria consciência eram a propriedade privada de sujeitos individuais e seu "ego" ou "Eu". Porém como pode ser, já que a própria experiência de um si mesmo ou sujeito, mente ou corpo, ego ou "Eu" assume uma consciência desse si mesmo ou sujeito, mente ou corpo, ego ou "Eu". Essa consciência portanto, não pode - em princípio - ser reduzida à propriedade ou produto de qualquer si mesmo ou sujeito, ser ou corpo do qual ele tem consciência. Este é o "Princípio de Consciência" em resumo - uma filosofia que supera a velha identificação da alma com um sujeito ou ego individual ou coletivo - e ao invés reintroduz a noção do divino como uma consciência universal da qual todas as almas são uma porção e expressão.

No pensamento indiano ou asiático, a noção de consciência como algo absoluto e universal - subjetividade sem um sujeito supremo - há muito tem sido reconhecida. Assim o deus indiano Shiva veio a simtolizar essa consciência absoluta e universal ou "espírito", assim como o deus Krishna simbolizava o eu interior ou "alma" de cada indivíduo - algo muito mais rico e multifacetado do que o ego individual ou "sujeito".

Hoje mesmo a filosofia pós-moderna ocidental finalmente foi forçada a alcançar a realidade econômica capitalista e transcender a velha noção cartesiana de que a consciência é a propriedade privada de "sujeitos" individuais. Pois na era da financialização global do capitalismo, se tornou claro que "a mão invisível do mercado" - e os mercados financeiros em particular - não é a mão de qualquer indivíduo, grupo ou estado político mas é o que sujeita todos os indivíduos e nações a sua dominação.

A própria política portanto, não mais possui um centro em personagens ou "sujeitos" políticos ou na vontade de estados nacionais soberanos - por estes são todos sujeitos ao mando impessoal do dinheiro e do capital financeiro. O Dinheiro e o Capital sozinhos e enquanto tais são os únicos "sujeitos" reais ou efetivos na era do capitalismo financeiro - seu "Deus" efetivo e a base do "Monoteísmo do Dinheiro".

O "socialismo" por outro lado, é compreendido dentro do nacional bolchevismo como socialismo com espírito e alma. Isso por sua vez demanda uma nova compreensão do "socialismo científico" (Engels) como uma ciência do espírito e da alma - uma que reconhece uma consciência universal como a realidade subjacente absoluta ou "alma" de todas as coisas e todos os entes, todos os indivíduos e todas as culturas, todos os mundos e universos.

Essa nova ciência não é nem materialista nem idealista no sentido hegeliano, mas é "subjetivista" no sentido absoluto - com base em um "Monismo da Consciência" que reconhece o "espírito" como a dimensão pura ou transcendente de uma consciência absoluta ou universal e "alma" como sua dimensão imanente, interior e individualizada.

Eurasianismo

O reconhecimento de tal consciência universal ou "transcendental" possui sua fonte histórica tanto no pensamento religioso indiano e na "ciência fenomenológica" dos filósofos alemães Edmund Husserl e Martin Heidegger. Daí seu caráter essencialmente indo-germânico, indo-europeu ou "eurasiano".

Daí também meus livros chamados "O que é o Hinduísmo?" e "O Estandarte Vermelho de Rudra" - em que eu afirmo que o abismo entre as filosofias e movimentos políticos religiosos e marxistas na Índia é totalmente desnecessário - baseado em uma falha em compreender a essência comum e revolucionária de ambos na subversão do Monoteísmo do Dinheiro.

Porém agora há nova evidência para mostrar que as próprias tradições religiosas indianas partilham de raízes comuns com uma avançada civilização pré-indo-europeia cobrindo toda a área conhecida como Eurásia. Essa civilização pré-histórica tinha centros não apenas no vale do Indo, mas também na Suméria (cuja língua não era nem indo-europeia nem semítica), no Médio Reino egípcio, em Creta e Micenas, e, como descobertas arqueológicas demonstram, na Rússia - onde em 1987 foi encontrada evidência no sul das Urais - (em Arkaim) de uma avançada civilização "ártica" proto ou pré-eslava mencionada por Platão como Hiperbórea, e partilhando escrita e escrituras similares ao sânscrito e os Vedas.

Essa civilização eurasiana pré-histórica foi semeada e guiada há muito no passado pelo conhecimento interior avançado ou gnose de seus reis-sacerdotes. O renascimento na Rússia de uma cultura e civilização eurasiana futuras - uma que substituirá a atual cultura capitalista global dominante ou "atlantista" dos EUA - foi antecipada pelo teosofista alemão Rudolf Steiner, e é promovida pelo Movimento Internacional Eurasiano. Aqui a palavra "internacional" significa o que ela deve, um "inter-nacionalismo" cooperativo de estados soberanos - não somente os da Europa e Eurásia - ao invés de sua sujeição ao imperialismo financeiro global e ao poder global de um único "superestado" americano. Pois permanece verdadeiro que:

"A América...criou uma 'civilização' que representa uma contradição exata da antiga tradição europeia. Ela introduziu a religião da práxis e da produtividade; ela colocou a busca pelo lucro, por uma grande produção industrial, e por realizações mecânicas, visíveis e quantitativas acima de qualquer outro interesse. Ela gerou uma grandeza desalmada de uma natureza puramente tecnológica e coletiva, carente de qualquer pano-de-fundo de transcendência, luz interior, e espiritualidade verdadeira. A América [construiu uma sociedade em que] o homem se torna mero instrumento de produção e produtividade material dentro de um conglomerado social conformista". - Julius Evola

Central a qualquer conceito eurasiano é uma aliança espiritual e política entre Alemanha e Rússia de um tipo que originalmente formava a base geopolítica de grupos nacional bolcheviques na Alemanha do entreguerras - e isso muito antes da criação de um "Partido Nacional Bolchevique" e "Movimento Eurasiano" na Rússia pós-soviética.

"Em princípio, a Eurásia e nosso espaço, o coração-continental da Rússia, permanece a área de ensaio para uma nova revolução antiburguesa e antiamericana"..."O novo império eurasiano será construído sobre o princípio fundamental do inimigo comum: a rejeição do atlantismo, o controle estratégico dos EUA, e a recusa em permitir que valores liberais nos dominem. Esse impulso civilizacional comum será a base de uma união política e estratégica". - Aleksandr Dugin

O que se demanda aqui não é um mero conceito geopolítico de um "Império Eurasiano", mas uma filosofia e teologia "eurasianista", ou seja, uma nova "teosofia" que transcenda totalmente o pensamento "científico" e "iluminista" ocidental, mas sem se identificar seja com o paganismo, com os "velhos crentes" cristãos ortodoxos, com budismo, islã ou interpretações ultrapassadas do Sanata Dharma (hinduísmo).

Uma coisa também deve estar clara: Nacional Bolchevismo não é Putinismo, pois o Putinismo é uma forma corrupta e autoritária de nacional capitalismo - ainda que uma que está agora abrindo espaço cada vez mais para as pressões do capitalismo internacional.

Fonte: Legio Victrix